Conscientização
Palestra vira alerta e combate ao feminicídio
Desafio Pré-vestibular realiza atividade com objetivo de conscientizar alunos e comunidade em geral; neste momento, 126 Medidas Protetivas de Urgência estão em vigor
Carlos Queiroz -
Como as mulheres morrem de misoginia? Esse foi o tema da palestra ministrada pela jornalista Niara Oliveira. Promovida pelo Desafio Pré-Vestibular, projeto de extensão da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em parceria com o projeto Mais Juntas e com o Núcleo de Gênero e Diversidade (Nugen), a atividade foi realizada na tarde desta segunda-feira (5), no auditório acadêmico do Campus Anglo da UFPel.
O Desafio, projeto que fornece aulas preparatórias para pré-vestibulares, tem em seu programa pedagógico a disciplina de atualidade e é justamente dentro desse conteúdo que o curso convida pessoas da sociedade civil para dialogar com os alunos sobre temas de relevância social. Nesse contexto, a palestra foi elaborada, com particularidade de ter sido também aberta à comunidade em geral, diante da relevância do debate.
"Nós trabalhamos a educação com perspectiva popular em uma dimensão transformadora. A nossa ideia não é só preparar o estudante para o Enem e Pave, mas também trabalhar a educação em um viés de preparar o sujeito com um olhar crítico", explica a coordenadora do Desafio, Catia Fernandes.
Mulheres em alerta permanente
Escritora e ativista pelo fim da violência contra a mulher, Niara Oliveira trabalha há mais de 30 anos com o tema. Coautora do livro Histórias de morte matada contadas feito morte morrida, ela destaca que, em seu trabalho, busca dar voz às mulheres que não podem mais lutar, pois foram vítimas de feminicídio, bem como evitar que outras sejam assassinadas.
Na palestra, a jornalista aborda a questão da imprensa tratar o feminicídio com voz passiva, noticiando que uma mulher foi assassinada sem mencionar já na manchete que ela foi morta por um homem e em razão da misoginia. "Isso colabora com mais mortes. Não faz sentido 'Mulher é encontrada morta', quando já se sabe que ela foi vítima de feminicídio. E aí perguntamos para que serve a voz passiva? Ela serve para desresponsabilizar o autor e para corresponsabilizar a vítima", afirma.
A palestrante enfatiza ainda que as mulheres precisam estar em estado de alerta permanente. De acordo com Niara, é de suma importância que haja o entendimento de que proibições, xingamentos e outras atitudes que inicialmente não representam uma violência física podem escalar para uma agressão mais perigosa.
Nesses casos, a primeira atitude que a vítima precisa tomar é realizar a denúncia. É a afirmação da jornalista, ao mencionar que o Estado precisa estar pronto para acolher essas mulheres de forma eficiente. "O primeiro passo é denunciar. Por mais que a gente saiba que os serviços não funcionam exatamente como deveriam, não tem jeito, tem que buscar ajuda e denunciar", ressalta. "As mulheres precisam entender que todas elas são possíveis vítimas e todos os homens podem ser possíveis assassinos. E o Estado precisa se posicionar diante disso ".
A vida para todas é difícil
No público, uma das estudantes que assistia à palestra era Tainara Castro. Com apenas 18 anos de idade, ela afirma que a vida é muito difícil para todas mulheres, principalmente para aquelas que são como ela: negras e de origem humilde. "Ser mãe é difícil, encontrar um emprego é difícil, mas para as mulheres como eu que também são negras e vêm de uma família pobre, as dificuldades são maiores ainda. A gente vive numa luta constante. Os casos que saem no jornal são poucos, o que acontece diariamente com as mulheres de periferia não é retratado", declara.
Dados da violência
Conforme levantamento da Secretaria de Segurança Pública do Estado, neste ano, em Pelotas foram registradas duas tentativas e um assassinato por feminicídio. Até o mês de julho, no município, 34 mulheres foram vítimas de estupro. Já de lesão corporal foram 366. Vítimas de ameaça, nos primeiros sete meses do ano, foram 467.
Atualmente, estão em vigor na cidade 126 Medidas Protetivas de Urgência. Em 2022, entanto, já foram 665 Medidas ativas, de acordo com dados do 4° Batalhão de Polícia Militar (4º BPM).
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